26 março 2010

parentes e aderentes

Gosto de panelas e frigideiras  anti-aderentes. De pessoas nem por isso. Gosto das com um fundinho que nos “agarre”.

16 março 2010

Leituras

Ele há palavras dos outros que, com muito mais jeito, escrevem o que pensamos.
Pensei em encurtar um pouco este artigo, mas não merece.


Já não sei quantas páginas de jornais e revistas se publicaram sobre "Lua Nova", adaptação para cinema do livro com o mesmo título de Stephanie Meyer. Queria contá-las mas a minha filha de onze anos deitou-as para o lixo, vociferando contra a imprensa portuguesa. Enquanto procedia a essa limpeza, a garota perguntava: "Se os livros e o filme são tão maus como todos escrevem, para que gastam tanto espaço com eles?". A pergunta pareceu-me oportuna. Preferi não lhe responder a verdade ("porque vendem"), dado que gostaria que ela não desistisse já de ler jornais e de acreditar que o jornalismo é um serviço público, em vez de uma sucursal de vendas dos Hollywoods. Também não lhe fez mal nenhum acreditar no Pai Natal durante seis anos. Tenho esta ideia de que quanto mais acreditarmos nas coisas e nas pessoas mais felizes seremos e mais sonhos conseguiremos realizar. É uma ideia com a qual não me tenho dado mal. Várias almas bem intencionadas têm tentado convencer-me, ao longo dos anos, e às vezes por ínvios caminhos, que um bocado mais de cepticismo ou, pelo menos, uma dose de hipocrisia com uns fumos de cansaço existencial me seria útil. Sei que até têm razão - mas a alegria de me erguer mil vezes, com a voz e a liberdade intactas, dos escombros das esperanças perdidas, não há utilidade que a pague. É essa mensagem que procuro passar aos que crescem à minha volta.


Na minha arreigada ingenuidade, acredito que os jornais servem para interrogar a realidade. Por isso estranho que ninguém queira perceber o que há neste universo de "Crepúsculo" (o primeiro livro e filme da saga) que tanto excita os adolescentes. Não, não são apenas, nem particularmente, os vampiros ou os lobisomens. As meninas estão fascinadas por Edward Cullen, não por ser vampiro, mas por ser um rapaz diferente dos rapazes que elas conhecem. Um rapaz belíssimo, de 17 anos, que tem um homem de 109 anos dentro de si, isto é: um homem que não confunde amor com sexo. Melhor ainda: um homem que sabe imediatamente o que é o amor, quando o encontra. Um homem que sabe o que quer, em vez de se resignar a saber apenas o que pode. O contrário do protagonista de "A Fera na Selva", de Henry James, isto é: o contrário do ser humano do sexo masculino, tal como o conhecemos: perdido na sua própria vaidade, assustado com a capacidade estereofónica das mulheres, apavorado com a ideia de perder o controlo e de se entregar, agarrado às suas rotinas securizantes e aos instintos do seu apêndice sexual, ou à necessidade de se mostrar o maior garanhão da sua paróquia. A razão pela qual as mulheres crescem a sonhar com vampiros ou lobisomens é simples: em geral, os homens, por si só, são pouco surpreendentes. Não têm mistério. Repetem-se muito. São previsíveis como uma decepção. Vou ser boazinha e acreditar que a culpa não é deles, é da educação marialva ainda em vigor. Aliás, fui educada para ser boazinha e acreditar que, com paciência, os homens mudam. Perdi a paciência há muitos anos, mas organizei-me para não perder a bondade, que é uma forma de esperança, por motivos egoístas.


Não é verdade que, como tanto se tem escrito, Bella Swan, a protagonista da saga, seja um modelo de passividade. Ela salva a vida ao próprio vampiro. A história é explicitamente inspirada no Romeu e Julieta de Shakespeare, abundantemente citado. Nos tempos que correm, é uma felicidade encontrar uma citação verdadeira, isto é, com aspas: anda meio mundo a enganar outro meio com frases tiradas dos clássicos, sem qualquer referência à fonte. Chamava-se a isto roubo; agora chama-se, caso seja descoberto, contaminação, colagem, arte, pós-modernismo ou coisa que o valha. É a liquidez para a qual nos alerta incessantemente Zygmunt Baumant. Uma liquidez que resulta da embriaguez pelo sucesso. Acusa-se Stephanie Meyer de 'puritanismo' porque o sexo entre o par apaixonado é constantemente adiado - embora a menina se esforce muito por trazer o vampiro para os seus lençóis (ele não tem cama, porque não dorme). Aprecio esta assumpção do desejo feminino, tão rara nos filmes e livros para jovens. Pergunta-me a minha filha: "Porque é que têm sempre que escrever 'a escritora mormon' quando falam de Stephanie Meyer? Ninguém escreve 'o escritor ateu José Saramago' ou 'a escritora cristã fulana', pois não?". Pouco importa. Depois de Shakespeare, a minha filha quer ler "O Monte dos Vendavais", por recomendação dos vampiros. Não é a mordidela, mas o bater do sangue.

 
Inês Pedrosa in Expresso



PS. Minha cara amiga M. não tenho qualquer espécie de vergonha em dizer que estou a ler a saga completa. E sim, vou-te comprar os quatro volumes em português.

08 março 2010

Play

Há  vidas que acontecem. Outras são pensadas.
A minha, vai acontecendo.

Foram?

Sei que vou tarde em anunciar que já foi e que até fui.
Para apreciadores e curiosos.
Vale(u)  a pena.