22 outubro 2009

O que digo pode ser mentira, mas o que faço é penosamente real.

Ontem saí de casa sem carteira de documentos, logo, sem cartões de crédito ou débito, nem qualquer espécie semelhante a forma de pagamento. Não achei preocupante, ia trabalhar e não às compras. Não dava para voltar atrás e tinha uns trocos na carteira para um café ou coisa do género.

A tarde corria como programada. Depois de uma reunião mais prolongada e aborrecida do que o esperado, saio para a rua em plena Júlio Dinis, chovia copiosamente e sem guarda chuva, abrigo-me encostada ao prédio. Sou abordada por uma mulher que me pede dinheiro para comer uma sopa; quem me conhece sabe que dou quase sempre, questiono para que é, como se isso me desse a certeza de que é mesmo para uma boa causa, faz-me sentir parva, porque afinal, nada daquilo me parece credível e dou dinheiro como se não tivesse mais nada onde o gastar ou me pesasse nos bolsos.
Abro a pequena carteira de moedas e a primeira que apanho é uma de dois euros, é-me literalmente tirada da mão pela mulher que agradece pedindo mais um euro para que possa comer mais que uma sopa.... neste momento fico a olhar para a moeda de dois euros na mão dela e com a certeza, que ali e agora, era eu quem ia precisar de pedir dinheiro... fiz um gesto com a mão de que me vou embora e desejo boa sorte... ainda a ouvi pedir mais, e qualquer coisa como ...um frango com batatas fritas...
Quase que desato a correr, com a visão dos dois euros na mão dela, isto porque me lembrei-me de que estava apenas com a carteira de moedas sem saber ao certo quanto lá estava (não seria muito com certeza) e o meu carro estava no novo parque subterrâneo da rua onde me encontrava. Tentei calcular o quanto me custaria a hora e meia, mais coisa menos coisa que ali esteve estacionado, e se eu não tivesse dinheiro suficiente? Será que tinha que pedir na rua para sair dali ou ia pedir os dois euros de volta emprestados? Senti-me parva.
O parque custou-me 1,80 euros. Fiquei com 12 cêntimos na carteira. Menos mal, não tomei café mas espero que alguém tenha comido a sopinha toda.
Honestamente, já me estava a imaginar a pedir dinheiro ao guarda do parque para poder sair dali. E provavelmente cheia de vergonha e com uma história pouco credível.

Hoje, à porta do supermercado estavam a fazer um peditório para qualquer coisa, pensei - não, não, não... passei sem me pedirem nada. Sorri. Repararam e retribuiram.

2 comentários:

Leonor disse...

Quem dá o que tem ...

Maria Cardeal disse...

pois, pois...
olha que nos dias que correm o dar e o receber é quase um "pequeno milagre"...
dou o que posso e às vezes o que não deveria.