11 outubro 2007

Como? Porquê? Já não importa.

Passou exactamente um ano que me tiraram o chão.
Levantei-me.
Desorientada, não sabia onde pisar.
A surpresa, a desilusão e o medo invadiram-me.
Conto os dias.
Desilusão e mágoa.
Arrancaram-me um olho e pedem-me para ver.
Vejo mal. Só consigo ver metade, a minha metade.
Arrancam-me uma perna e pedem-me para andar.
Não sou capaz.
Levanto-me, tento andar. Coxeio, balanço para trás, para a frente e tombo para os lados.
Levanto-me. Pedem-me para andar.
Cortam-me uma mão e pedem-me para aplaudir. Bater palmas.
Como é que se bate palmas sem uma mão?
Batendo com a palma da mão, a que resta, contra o próprio corpo.
Bater na cara e no peito.
A doer. Mas pedem-me para bater palmas.
Arrancaram-me um braço e pedem-me para abraçar.
Abraçar, não sou capaz.
Só tenho um olho, mal consigo reconhecer o corpo que tão bem conhecia.
Só tenho uma perna, mal me equilibro e o outro corpo já não é um porto seguro.
Só tenho uma mão e perdeu as forças.
Só tenho um braço e não te consigo abraçar nem segurar.
Deixo-te ir.
Não tenho força.
Fico por aqui, por ali, por aí.
Hoje faz um ano.

3 comentários:

MIN disse...

O outro braço vai voltar a crescer e depois a mão e depois tudo o que é teu que te foi arrancado vai renascendo, aos poucos... acredita!
O pior já passou.
bj

Anónimo disse...

Deixa sarar bem, não há ferida mais dificil de cicratizar e mais fácil de abri

purita disse...

:+